Pope Francis

Thursday 30 October 2014

Deus só outorga a Sua Graça aos humildes

Não poderemos nunca convencer-nos adequadamente da grande importância que tem o cuidado de praticar a Humildade e eliminar do nosso espírito toda a presunção, toda a vaidade e todo o orgulho.

Todo o cristão contraiu no batismo a obrigação de seguir os passos de Jesus Cristo, que é o modelo a que devemos conformar a nossa vida. Ora bem, este Deus Salvador praticou a Humildade a ponto de se fazer o opróbrio dos homens, ensinando-nos com o seu exemplo o caminho único que conduz ao céu. Para falar com propriedade, esta é a mais importante lição do Salvador: “Aprendei de mim!”

Conselhos para a prática da Humildade:

I

Abre os olhos de tua alma, e pensa que nada tens que mereça estima. De teu, só tens o pecado, a debilidade, a fraqueza; e quanto aos dons da Graça que estão em ti, assim como os recebeste de Deus, que é o princípio de todo o ser, assim só a Ele deves dar glória.

II

Concebe por isso um profundo sentimento do teu nada e faze-o crescer constantemente no teu coração. Persuade-te de que não há no mundo coisa mais vã e ridícula que o desejo de ser estimado por alguns dotes da gratuita liberalidade do Criador, pois, como diz o Apóstolo, se os recebeste emprestados pelo Criador, por que te envaideces como se fossem teus e não os tivesses recebido do Criador a título de empréstimo?

III

Pensa frequentemente na tua fraqueza, na tua cegueira, na tua vileza, na tua dureza de coração, na tua inconstância, na tua sensualidade, na tua insensibilidade para com Deus, no teu apego às criaturas e em tantas outras viciosas inclinações que nascem da tua natureza corrompida. Sirva-te isto de grande motivo para te abismares continuamente no teu nada, e seres aos teus olhos o menor e o mais vil de todos.

IV

A memória dos pecados da tua vida passada esteja sempre impressa no teu espírito. Nenhuma outra coisa reputes tão abominável como o pecado da soberba, o qual, posto em comparação, vence qualquer outro, tanto sobre a terra como no inferno: este foi o pecado que fez prevaricar os anjos no céu e os precipitou nos abismos; este foi o pecado que corrompeu todo o género humano, e que fez cair sobre a terra aquela infinita multidão de males, que durarão enquanto durar o mundo.

V

Considera também que não há delito, por enorme e detestável que seja, ao qual não se incline a tua natureza corrompida, e do qual não possas fazer-te réu; e que só pela misericórdia de Deus e pelo socorro das suas divinas graças foste dele livre até hoje, segundo aquela sentença de Santo Agostinho: “Não haveria pecado no mundo que o homem não cometesse, se a mão que fez o homem deixasse de sustentá-lo” (Arl. C. 15);

VI

Não te iludas pensando que poderás conseguir a Humildade sem aquelas práticas que a ela estão ligadas, como os actos de mansidão, de paciência, de obediência, de ódio contra ti, de renúncia ao teu sentimento e às tuas opiniões, de arrependimento de teus pecados e outros actos semelhantes, porque somente estas armas poderão vencer em ti o reino do amor-próprio, aquele abominável terreno onde brotam todos os vícios, onde se aninham e crescem desmedidamente o teu orgulho e a tua presunção.

VII

Tanto quanto possível, observa o silêncio e o recolhimento, desde que isso não cause prejuízo a outrem, e, quando fores obrigado a falar, fala sempre com gravidade, com modéstia e simplicidade. E se por acaso não fores ouvido, seja por desprezo ou por qualquer outra causa, não te mostres ressentido, mas aceita essa humilhação com resignação e tranquilidade.

VIII

Com todo o cuidado e atenção, evita proferir palavras atrevidas, orgulhosas, e que indiquem pretensão de superioridade, como também qualquer frase estudada e toda a sorte de gracejos frívolos; cala sempre tudo aquilo que puder fazer com que te considerem uma pessoa de espírito e digna da estima dos outros. Numa palavra, nunca fales de ti sem justo motivo, e nada digas que possa granjear-te honra e louvor.

IX

Cuida-te de não mortificar e ferir a outrem com palavras e sarcasmos; foge, numa palavra, de tudo o que lembra o espírito mundano. Fala pouco das coisas espirituais, e não o faças em tom magistral e à maneira de repreensão, a não ser que a isso sejas obrigado por teu cargo ou pela caridade. Contenta-te com interrogar os que delas entendem e que sabes que te podem dar conselhos oportunos, porque o querer fazer-se de mestre sem necessidade é acrescentar lenha ao fogo da nossa alma, que se consome em fumaça de soberba.

Baseado no livro “ A Prática da Humildade”, de Gioacchino Pecci (Leão XIII)

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