O Papa afirmou esta quarta-feira que «ninguém é dono da
verdade» e estimulou os católicos a seguirem o exemplo da
evangelização feita por S. Paulo, que foi um «construtor de pontes» e
não de «muros».
«A verdade não entra numa enciclopédia. A verdade é um
encontro; é um encontro com a Suma Verdade: Jesus, a grande verdade.
Ninguém é dono da verdade. A verdade recebe-se no encontro», disse
Francisco, citado pelo portal de notícias da Santa Sé.
À imagem de Cristo, «que falou com todos», o cristão
que anuncia o Evangelho deve «escutar todos», tendo presente que a
Igreja “não cresce com proselitismo”, mas pela «atração, pelo seu
testemunho, pela sua pregação».
«Os cristãos que têm medo de fazer pontes e preferem
construir muros são cristãos inseguros da própria fé, não seguros de
Jesus Cristo», frisou Francisco na missa a que presidiu na Casa de
Santa Marta.
Praça de S. Pedro. Vaticano, 8.5.2013. Foto: REUTERS/Stefano Rellandini
Quando os católicos perdem a «coragem apostólica»,
prosseguiu, a Igreja perde a «fecundidade» porque deixa de «ir às periferias,
onde tantas pessoas são vítimas da mundanidade, da idolatria, de
pensamentos débeis».
Depois da missa o Papa foi acolhido por cerca de 80 mil
pessoas que o aguardavam na Praça de São Pedro para a audiência geral,
que Francisco continuou a dedicar ao Credo, fórmula com os enunciados
principais da fé professada pelos católicos.
Papa
Francisco depõe flores na imagem de Nossa Senhora de Luján, padroeira
da Argentina. Praça de S. Pedro. Vaticano, 8.5.2013. Foto:
REUTERS/Stefano Rellandini.
«O cristão é uma pessoa que pensa e age segundo Deus,
segundo o Espírito Santo. Mas faço-me uma pergunta: e nós, pensamos
segundo Deus? Agimos segundo Deus?» Ou deixamo-nos guiar por tantas
outras coisas que não são propriamente Deus? Cada um de nós deve
responder a isto no fundo do seu coração», acentuou.
Após a audiência geral, o Papa recebeu cerca de 900
religiosas de todo o mundo, que participam na assembleia geral da União
Internacional das Superioras Gerais.
A pobreza deve ser entendida como «superação de todos
os egoísmos na lógica do Evangelho que ensina a confiar na Providência
de Deus», apontou.
«Pobreza como indicação a toda a Igreja que não somos
nós a construir o Reino de Deus, não são os meios humanos que o fazem
crescer, mas é principalmente o poder, a graça do Senhor, que opera
através da nossa fraqueza», explicou.
Para Francisco a pobreza revela-se através da «solidariedade, a partilha e a caridade», bem como na «sobriedade e alegria pelo essencial», a par da vigilância face aos «ídolos materiais que obscurecem o sentido autêntico da vida».
«A pobreza teórica não nos serve. A pobreza aprende-se tocando a carne de Cristo pobre, nos humildes, nos pobres, nos doentes, nas crianças», vincou.
A «castidade», por seu lado, é um «carisma precioso» que faz resplandecer o «primado de Deus» e que se associa à maternidade.
«A consagrada é mãe, deve ser mãe e não
"solteirona". Desculpem-me se falo assim, mas é importante esta
maternidade da vida consagrada, esta fecundidade. Esta alegria da
fecundidade espiritual anime a vossa existência», apelou.
Solidéu
do papa Francisco na cabeça de uma jovem. Praça de S. Pedro. Vaticano,
8.5.2013. Fotos: AP Photo/Alessandra Tarantino, REUTERS/Stefano
Rellandini
«Sabei sempre exercitar a autoridade acompanhando,
compreendendo, ajudando, amando; abraçando todos e todas, sobretudo as
pessoas que se sentem sós, excluídas, áridas, as periferias existencais
do coração humano. Tenhamos o olhar orientado para a Cruz. Ali se
coloca toda e qualquer autoridade na Igreja, onde aquele que é o Senhor
se faz servo até ao dom total de si mesmo», declarou.
REUTERS/Stefano Rellandini
Rui Jorge Martins
© SNPC | 08.05.13
(http://www.snpcultura.org/ninguem_e_dono_verdade.html)