O Papa afirmou esta quarta-feira que «ninguém é dono da
verdade» e estimulou os católicos a seguirem o exemplo da
evangelização feita por S. Paulo, que foi um «construtor de pontes» e
não de «muros».
«A verdade não entra numa enciclopédia. A verdade é um
encontro; é um encontro com a Suma Verdade: Jesus, a grande verdade.
Ninguém é dono da verdade. A verdade recebe-se no encontro», disse
Francisco, citado pelo portal de notícias da Santa Sé.
À imagem de Cristo, «que falou com todos», o cristão
que anuncia o Evangelho deve «escutar todos», tendo presente que a
Igreja “não cresce com proselitismo”, mas pela «atração, pelo seu
testemunho, pela sua pregação».
«Os cristãos que têm medo de fazer pontes e preferem
construir muros são cristãos inseguros da própria fé, não seguros de
Jesus Cristo», frisou Francisco na missa a que presidiu na Casa de
Santa Marta.
Quando os católicos perdem a «coragem apostólica»,
prosseguiu, a Igreja perde a «fecundidade» porque deixa de «ir às periferias,
onde tantas pessoas são vítimas da mundanidade, da idolatria, de
pensamentos débeis».
Depois da missa o Papa foi acolhido por cerca de 80 mil
pessoas que o aguardavam na Praça de São Pedro para a audiência geral,
que Francisco continuou a dedicar ao Credo, fórmula com os enunciados
principais da fé professada pelos católicos.
«O cristão é uma pessoa que pensa e age segundo Deus,
segundo o Espírito Santo. Mas faço-me uma pergunta: e nós, pensamos
segundo Deus? Agimos segundo Deus?» Ou deixamo-nos guiar por tantas
outras coisas que não são propriamente Deus? Cada um de nós deve
responder a isto no fundo do seu coração», acentuou.
Após a audiência geral, o Papa recebeu cerca de 900
religiosas de todo o mundo, que participam na assembleia geral da União
Internacional das Superioras Gerais.
A pobreza deve ser entendida como «superação de todos
os egoísmos na lógica do Evangelho que ensina a confiar na Providência
de Deus», apontou.
«Pobreza como indicação a toda a Igreja que não somos
nós a construir o Reino de Deus, não são os meios humanos que o fazem
crescer, mas é principalmente o poder, a graça do Senhor, que opera
através da nossa fraqueza», explicou.
Para Francisco a pobreza revela-se através da «solidariedade, a partilha e a caridade», bem como na «sobriedade e alegria pelo essencial», a par da vigilância face aos «ídolos materiais que obscurecem o sentido autêntico da vida».
«A pobreza teórica não nos serve. A pobreza aprende-se tocando a carne de Cristo pobre, nos humildes, nos pobres, nos doentes, nas crianças», vincou.
A «castidade», por seu lado, é um «carisma precioso» que faz resplandecer o «primado de Deus» e que se associa à maternidade.
«A consagrada é mãe, deve ser mãe e não
"solteirona". Desculpem-me se falo assim, mas é importante esta
maternidade da vida consagrada, esta fecundidade. Esta alegria da
fecundidade espiritual anime a vossa existência», apelou.
«Sabei sempre exercitar a autoridade acompanhando,
compreendendo, ajudando, amando; abraçando todos e todas, sobretudo as
pessoas que se sentem sós, excluídas, áridas, as periferias existencais
do coração humano. Tenhamos o olhar orientado para a Cruz. Ali se
coloca toda e qualquer autoridade na Igreja, onde aquele que é o Senhor
se faz servo até ao dom total de si mesmo», declarou.
Rui Jorge Martins
© SNPC | 08.05.13
(http://www.snpcultura.org/ninguem_e_dono_verdade.html)