Na
quarta-feira passada, de manhã cedo, fui interpelado por uma mensagem
informática de um jovem universitário (NN), que conheço apenas do «chat»
de uma rede social. O NN felicitava-me por um artigo nesse mesmo dia
publicado. Agradeci-lhe a amabilidade e estranhei que já o conhecesse.
Disse-me então que o texto lhe tinha sido reenviado por uns amigos
cegos. Estranhei o facto, mas o NN confirmou-me que são mesmo cegos e
que, graças a uma aplicação, conseguem converter à oralidade o texto
escrito. Com bom humor, acrescentou depois que, embora não desse muito
nas vistas, também ele é cego.
De imediato
lhe pedi perdão pela minha eventual indelicadeza, mas a sua resposta,
recusando as minhas desculpas, não se fez esperar: «Sabe que, para mim, a
cegueira não é sinónimo de dificuldade ou de tristeza. É óbvio que
gostava de voltar a ver, mas … aprendi a ver melhor as coisas. Por isso,
todos os dias agradeço a Deus por me ter proporcionado esta
experiência. Foi graças a isso que o conheci a Ele. Acho que só isso já
justifica o não poder ver com os olhos …».
Desculpem-me
a pieguice, mas estas palavras tiveram o condão de me comover, como há
tempo não me acontecia. Também agora, sinto-me profundamente tocado pela
grandeza daquela alma à qual foi pedido tamanho sacrifício e onde não
há nenhum ressentimento ou revolta, mas apenas gratidão e, até, bom
humor. O meu amigo NN, não vendo, vê muito mais do que eu e do que
muitos outros, porque vê com o coração iluminado pelo dom da fé.
Não foi a
única bênção desse dia, porque Deus me deu também a imensa alegria de,
apesar da minha cegueira, entrevê-Lo nas celebrações eucarísticas e do
sacramento do seu amor e perdão. Obrigado, Senhor! in ionline
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